MIL recebe as IV Jornadas do Observatório do Ciberjornalismo

A crise sob os media que se tem feito sentir nos últimos anos  não deixa nenhum jornalista ou amante de informação indiferente.

A redução da receita, os despedimentos dos jornalistas e o encerramento de alguns meios têm vindo a influenciar a qualidade da informação. Será que a crise veio para ficar?

Com o encerramento do primeiro nativo digital em Portugal, o Setúbal na Rede – que já tinha atingido a sua maioridade há quase um ano – que perspectivas podemos ter para o futuro do jornalismo?

E foi assim que surgiram, pela 4.ª vez consecutiva, as Jornadas do Observatório do Ciberjornalismo, este ano com o tema ”A sobrevivência dos Cibermeios”, pertinentemente escolhido, tendo em conta o sucedido.

 

No passado dia 6 de Dezembro, o Media Innovation Lab (MIL) da Universidade do Porto foi o palco das IV Jornadas do Observtório do Ciberjornalismo, as quais contaram com a presença de vários especialistas reconhecidos pela sua contribuição para o Ciberjornalismo, nomeadamente Paula Pinto Costa, Vice-Presidente do Concelho Científico da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Sérgio Nunes, Diretor do MIL – U. Porto Media Innovation Labs e Hélder Bastos, Coordenador do Observatório do Ciberjornalismo, que iniciaram a sessão de abertura, pelas 09H30, dando as boas vindas a todos os participantes e convidados.

Pelas 10H00, os jornalistas convidados João Francisco GomesPedro Emanuel SantosPedro MarquesLuís Almeida e Patrícia Fonseca deram voz ao início do debate sobre ”A sobrevivência dos Cibermeios”, moderado por Fernando Zamith.

O arranque do debate foi feito pelo jornalista do Observador, João Francisco Gomes, que iniciou o seu discurso com a ideia de que é necessário que os jornais estejam presentes na internet e alertou para uma consciencialização de que esta se tem vindo a mudar gradualmente. Num espaço onde tudo se encontra à distância de um clique é necessário que se saiba que ”a Internet não é um quiosque. Não há só jornalismo lá. É muito fácil estarmos a ler uma notícia e quando reparamos estamos numa página que não é jornalismo.”. O jornalista fez ainda uma ressalva sobre estas páginas que não são jornalismo mas que o alimentam:  a publicidade. João Francisco Gomes terminou a sua intervenção salientando que é necessário que haja um jornalismo de qualidade na Era Digital e que seja gratuito. Com este discurso, o especialista em Cibermeios confessou que o Observador, uma das maiores redacções online portuguesas, optou por permitir que todos os cibernautas acedam aos seus conteúdos gratuitamente, evitando assim que estes naveguem para outras páginas e se mantenham ligados àquela.

Seguidamente a João Gomes, discursou Pedro Emanuel Santos, jornalista do Porto24, que continuou a abordagem sobre a publicidade, uma vez que, segundo este, a publicidade é fundamental para a sobrevivência dos cibermeios pois, ainda que uma redacção reproduza informação de qualidade, se não tiver receita – que também é proveniente da publicidade- é sinónimo de que não terá futuro e que acabará por encerrar. Pedro Santos concluiu o seu discurso relembrando o público de que o jornalista é um amante da informação que, até em momentos de escassez de recursos, consegue produzir notícias de qualidade para a sociedade de informação e que, se para uma redacção como o Observador, que produz conteúdos sobre vários temas e tem uma audiência mais vasta, é difícil sobreviver a estas mudanças, mais difícil é e será para outras redacções que não têm tanta publicidade.

Pedro Marques foi o 3.º interveniente neste debate e tratou a problemática associada ao jornalismo enquanto negócio. O jornalista defende que, atualmente, os jornalistas se encontram mais predispostos a olhar para o seu trabalho como um negócio e não como uma ambição profissional. A atenção passa a dirigir-se para a redução dos recursos a que o jornalista está sujeito, inclusive a redução do seu salário.

Pegando na ideia de Pedro Marques, Miguel Almeida confessou que tem vindo a sentir dificuldades na redação online que chefia – Caminh@2000 – uma vez que esta tem sobrevivido apenas com a publicidade que recebe da Câmara Municipal de Caminha, em prol da pequena audiência que o jornal tem.

Patrícia Fonseca encerrou este debate sobre a Sobrevivência dos Cibermeios através da apresentação da página do jornal online que criou com o seu irmão, o MediaTejo, falando das dificuldades que os dois irmão sentiram para a criação e sobrevivência da redação.

Após o breve discurso feito por cada um dos convidados, foi a vez do público intervir com algumas perguntas.

”Os jornalistas podem ser gestores de uma redação ou os gestores devem ser profissionais que pouco ou não percebem da área do jornalismo?” e ”A reportagem vai acabar?” foram as duas grandes questões feitas aos oradores.

Em relação à 1.ª questão, João Gomes lançou-se para afirmar que um jornalista não deve ocupar o seu tempo com algo que não é a sua profissão mas alertou que os profissionais da comunicação devem estar atentos para a gestão das redações pois, direta ou indiretamente, uma boa ou má gestão vai afetar o seu trabalho enquanto jornalista e a receita da redação onde trabalha. Patrícia Fonseca concluiu a resposta a esta questão lembrando que a pior coisa que aconteceu ao jornalismo foi o jornal ter entrado para a bolsa e que, uma vez que o jornal é um serviço público e para o público, deve ser tido em conta na gestão.

Quando a questão foi ”A reportagem vai acabar?”, todos os oradores estiveram de acordo quanto à resposta: se a reportagem acabar, o jornalismo acaba. Porque fazer jornalismo é fazer reportagens e, com muitos ou poucos recursos, um bom jornalista vai sempre encontrar informação para construir reportagens para o mundo.

Pelas 12H00, foi a vez de Pedro Jerónimo apresentar a sua obra ”Media e Jornalismo de proximidade na Era Digital”, na qual abordou a adaptação da imprensa regional à Internet. A obra apresentada é parte integrante do projecto “Oportunidades y retos del periodismo en los entornos abiertos: estudio de las voces de la sociedad en torno a los medios tradicionales y los sitios participativos de nueva generación”, financiado pelo Ministério de Ciência e Inovação de Espanha. Pode fazer o download desta obra ou adquiri-la em versão impressa.

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As IV Jornadas do Observatório do Ciberjornalismo terminaram com a apresentação dos vencedores dos Prémios do Ciberjornalismo 2017, anunciados por Ana Isabel Reis e Hélder Bastos.

De acordo com a votação online, a Rádio Renascença arrebatou os prémios de 3 das 6 categorias, nomeadamente em Infografia Digital com ”Fátima em número”, Videojornalismo Online com ”Fátima mistérios de Fé” e, na categoria de Última Hora com “Pedrógão Grande”.

No que diz respeito à votação feita pelo júri,  a Rádio Renascença e o Jornal de Notícias também estiveram na liderança dos votos nas categorias de Infografia Digital, Videojornalismo Online, Reportagem Multimédia e Última Hora.

 

 

 

RESULTADOS DOS PRÉMIOS DE CIBERJORNALISMO 2017

Segundo votação do Júri:

Ciberjornalismo Académico: “26km2 de silêncio entre Portugal e Espanha (ComUm)”

Infografia Digital: “As 118 palavras em 36 discursos de Barack Obama (JN)”

Videojornalismo Online: “Fátima mistérios de Fé (Rádio Renascença)”

Reportagem Multimédia: “O país ardeu por dentro em Pedrogão (Rádio Renascença)”

Última Hora: “A tragédia de Pedrógão Grande (JN)”

Excelência Geral em Ciberjornalismo: Rádio Renascença

Segundo votação do Público:

Ciberjornalismo Académico: “3ª Pessoa do Singular (JPN)”

Infografia Digital: “Fátima em número (Rádio Renascença) e “As 118 palavras dos 36 discursos de Barack Obama (JN)”

Videojornalismo Online: “Fátima mistérios de Fé (Rádio Renascença)”

Reportagem Multimédia: “A República do Medo (Correio da Manhã)”

Última Hora: Tragédia de Pedrógão Grande (Jornal de Notícias)

Excelência Geral em Ciberjornalismo: Público

 

Fernando Zamith fez as despedidas com a promessa de que as V Jornadas do Observatório do Ciberjornalismo se realizarão no próximo ano com data ainda por definir.

Cartaz das IV Jornadas do Observtório do Ciberjornalismo 2017:

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Todas as fotografias têm direitos reservados

Esta passagem pelo Porto não resultou só pela participação nas IV Jornadas do Observtório do Ciberjornalismo 2017. Pelas 15H00, houve ainda a oportunidade de visitar a redação do Jornalismo Porto Net – um jornal digital de informação geral que acompanha as notícias com destaque para o distrito do Porto. Este projeto é integrante da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Porto e nele existem vários programas tais como o ”4 em linha”, ”Porto ouvido”, ”Gente comum”, ”Pequeno ecrã”, ”Grande ecrã” e ”Quarto árbitro”.

Consulte online.

 

 

Fotografias Redacção JPN: Mariana Rodrigues

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